31 março, 2009
«« Poema sem dor ««
Escuta, na noite silenciosa
As palavras que te chegam no vento
Escuta, presta atenção nesse momento
É minha escrita gasta, por vezes receosa
Confesso, escrita demente e curiosa
Que tenta invadir-te no sonho
Não digas, já sei, parece tristonho
É a única forma que tenho, a mais airosa
Assim, na noite gélida… sozinha
Vou entrelaçando a tua vida na minha
Contigo, vou tendo longas conversas
Vou tentando compor o poema, sem dor
Quase que oiço tua voz dizendo, meu amor
Acredita no poema,… ouvi tua voz ...és minha
««Anseios««
Pensei dizer-te palavras de amor
Não encontro a palavra apropriada
Ocorre-me uma sílaba desconectada
Acabo por guarda-la no peito com dor
Repensei, envio-te airosa flor
Flores brancas da giesta agreste
Como agreste é esse olhar que me deste
Anseios, que escondeste em jeito sonhador
Quero dizer-te palavras de amor
Tenho-as retidas na lágrima que cai
Que me inunda a alma em pétalas de cor
Manto que cobre os campos vistosos
Deleite para os meus, os teus olhos
Lembrando poemas em versos caprichosos
29 março, 2009
«« Horas mornas««
Horas mornas de calmaria
Abraço o horizonte
Dou asas à fantasia
Em braços de terra
Enlaço aquele monte
Deixo prender-me na força
Das nuvens que passam
A força que me suga
E me atraca a ti
Pedaço de chão em mim
Abro alas à fantasia
E a tudo o que ela encerra
Ruga profunda na fronte
Que assinala o alto da serra
Onde a água jorra da fonte
Onde sacio esta sede
Sede de te ter, de te ver
Sede de quando morrer
No teu peito adormecer
Horas mornas de acalmia
Deus estava feliz
No dia em que te esculpiu
Alentejo meu quinhão
Deixou correr a mão
Aqui e ali
Esmerou-se na ilusão
De que sempre serias petiz
De calções rasgados ao vento
Lançando papagaios de papel
Galopando um cavalo alazão
Sem amarras nem prisão
Louco, louco coração
Suspensa na tua mão
Enrosco-me nesta calmaria
E sonho
Sonho com um amor que me diz
Que de sonhos os sonhos são feitos
Que nos sonhos se dorme feliz
Sonho, que me sorri
Que me diz que estás aí
No monte esperando por mim
28 março, 2009
««Diz-me««
Porque me ardem as ideias na fogueira
Por entre demónios desequilibrados
Tortuosos, famintos,desenraizados
Borbulhando em tão grande chaleira
Porque me torturo desta maneira
Na procura do verbo adequado
Para a morte procuro significado
Mas recuso refugiar-me na cegueira
Cegueira que jura não ver as chagas
Que cobrem de dor este mundo louco
Numa tentativa de ignorar as algemas
Que amarram as vontades de lés a lés
Que enclausuram as liberdades
Diz-me… doida sou, porque o sou… por quem és?
««Ao sol««
Perco-me por entre o crer e a razão
Sensibilidade à flor da pele
Desnudando anseios por entre o fel
Caminhos sinuosos da imaginação
Ah, porque és tresloucado coração
Porque atas as fantasias com cordel
Desvairado nos desejos, infiel
Enraizado nos medos da frustração
Penso eu que te comando, ilusão
Perco o fio à meada das ideias, sem saber
Simples marioneta ao sabor da tua mão
Arranca-me desta estranha nostalgia
Encaminha-me pelo campo nu
Onde ao sol, possa semear a letargia
««Encontro com um melro ««
Vislumbrei entre a folhagem
Aquele corpo luzidio
Pensei que era miragem
Que tinha chegado com o estio
Do meu canto sombrio
Vi o brilho tão intenso
Imóvel não dei um pio
Mantive-me em suspenso
De um preto tão intenso
Suas penas são pintadas
A lembrar um céu imenso
Em noite fria estrelada
Comigo ali especada
Encheu o peito cantou
Melodia apaixonada
De água meu olhar inundou
Algo me diz que ficou
Tão espantado como eu
Abriu asas e voou
Em voo picado pró céu
Foi assim que aconteceu
Com o melro o meu encontro
Agora aqui estou eu
Sonhando com o reencontro
27 março, 2009
««Somente criança««
Vislumbro esse olhar inquieto
Transbordando de mágoa e dor
Enfraquecido no desamor
De quem enfrenta a vida
Sozinho
Sem futuro nem saída
Transportas na sacola
A esmola
Pedaços de raiva
Essa raiva de ser criança
A quem tudo falta, nada tem
Nem amor nem vintém
Só te dão desdém
Fico a olhar-te aquém
De expectativas e esperança
Que a tua vida melhore
Que seja rápido, não demore
Que te soprem ventos de mudança
Como eu queria dar-te confiança
Confiança na mudança
No mundo e nos homens
Na cegueira que corrói
Mata e destrói
As tuas brincadeiras
Até mesmo as asneiras
De criança
Roubaram-te os heróis
Taparam-te todos os sóis
Exijo
Que te devolvam a esperança
Que te devolvam a vida
Que te deixem
Somente ser criança
««Peço Paciência««
Peço paciência, ao poeta
Por ser quem sou
Peço paciência à palavra
Por me dar como dou
Às ideias peço, paciência
Para cultivá-las
Ao poema que fica
Peço desculpa pelo desabafo
Que tantas vezes me leva
Por caminhos de embaraço
Ao papel onde escrevo
Agradeço, a ternura
Com que me atura
Mesmo nas horas de impertinência
De concordância ou divergência
A ti
Minha mão amiga
Companheira de lida
Agradeço, o modo
Como deixas que te conduza
Numa caligrafia desnorteada
Tantas vezes baralhada
Por fim
Agradeço ao tempo
A todos os minutos e segundos
Que lhe roubo
Para me entregar a esta tarefa
De poeta louco
Que tudo diz, tudo escreve
E o pior
A tudo chama pouco
26 março, 2009
«« Desejos que atraíste ««
Se eu dissesse que não te amo, mentia
Renegava o que de melhor em mim existe
Ultrapassava os desejos que atraíste
Tantas vezes remexidos na agonia
Comigo, perdida nesta apatia
Tento esquecer o momento em que partistes
Relembro o instante em que me possuíste
Deleite, elejo-te minha alquimia
Isto acontece após a despedida
Breve instante em que me separo de mim
Em que sinto minha alma dorida
Na incerteza de te ter novamente
Tento olhar a vida de frente, aprender a sorrir
Tento encontrar a seiva, a força que me sustente
««Prazer sem limites««
Entrego-me a este prazer sem limite
Escrever, um escrever enraizado, de mim
Desnudo as ideias em contextos sem fim
Empurro a palavra viva que resiste
Ás inquietudes de um amor que insiste
Em torneá-la com contornes de delfim
Ai palavra, porque me prendes assim
Porque te banhas nas ilusões que atraíste
Nada importa quando se vive a escrita
Quando acordamos em desejos de a parir
Mesmo que seja fraca e nada bonita
Como quem cuida de um filho ao nascer
Quando se corta o cordão umbilical
Assim cuido, desta vontade de escrever
25 março, 2009
««Embalo-me««
Embalo-me nesse teu cheiro
Os meus sentidos se deleitam, em ti
Ao mesmo tempo que me inundam, a mim
De fragrâncias e tremores, feiticeiro
Entrego-me nessa onda por inteiro
Desfrutas-me como se eu fora um jardim
Assim te perfumas em aromas de jasmim
Nuvem de pétalas, um amor verdadeiro
Assim numa entrega sem reservas
Vamos construindo o pilar da existência
Mesmo que pelo caminho nasçam angústias
Angústias, apenas o pilar em construção
De dois seres que se amam e tem medo
Que seja curta a vida, que se esvaia na paixão
««Entrega««
Bendito poema que alimentas
Sacias minha fome invisível
Deleitas numa rima sensível
Minha alma enlaçada em tormentas
Essa seiva em carícias brotadas
Elevam-me a um louco carrossel
Que procura desnudar as ideias
Galopando um soberbo corcel
Em prazer se enchem cisternas
Silos espalhados na estrada da vida
De prazer se semeiam palavras ternas
Bendita a força que carrega
As sílabas do poema gerado
Por mim, por ti, descomunal entrega
24 março, 2009
««Será que me ouves««
Será que me ouves
Quando em sonhos chamo por ti
Será que sentes o vazio em que caí
Quando no peito aperta a angustia
De viver por viver
Medos e tormentos de mulher
Será que ouves o grito
Hilariante do desejo
Na carne viva escorrendo em sangue
Luz trémula que reacende num lampejo
A imagem perdida do teu beijo
Esta ansiedade que volta com a noite
Porque o dia é claro demais
Minha angústia acorda em vendavais
Ao sol não me entrego faz tempo
Nada mais, que contratempo
Será que pensas em mim no momento
Em que fechas os olhos e dormes
Será que em sonhos me consomes
Por acaso me entranhei no teu pensamento
Ao ponto de gerar cicatrizes
Assim como os amores infelizes
Comigo,embrenhada neste desalento
Percorro o quarto sombrio
Onde estás tu neste momento
Em que morro tremendo de frio
Porque te esqueces de preencher este vazio
23 março, 2009
««Quisera minha alma entender-te««
Coração quisera minha alma entender-te
Como quem entende o chilrear dos pardais
Quisera eu possuir-te, conhecer-te
Por entre os uivos de loucos vendavais
Entre sentimentos e razões desconhecidas
Quisera eu resgatar-te nas areias movediças
Que te transportam em loucuras tingidas
Numa paleta coberta de cores mortiças
Ai coração porque teimas em te afastar
Nessa ira tresloucada que te corrói as entranhas
Porque te vais nessa estrada sem retorno
Porque não procuras onde possas descansar
Uma lanterna que te consiga iluminar
Uma muralha que te ampare sempre que cais
22 março, 2009
««Esmola««
Estranha duvida que me assola
Uma força imensa que desfalece
Ao mesmo tempo que me consola
No meu imaginário apodrece
Por vezes penso que é esmola
É sempre assim quando anoitece
O que se me estende da sacola
A que chamo coração, ninguém merece
Teimo em procurar na solidão
Algo que extinga esta aflição
Que me arranque deste vazio, por fim
Ideias que me sufocam em turbilhão
Que me levam aos limites da exaustão
Que cada vez, me afastam mais de mim
«« Escrevo de ti em mim««
Escrevo de ti em mim
Palavras reinventa das
Quem sabe em vidas passadas
Abruptamente cortadas
Em espada de fino corte
Que nos juntou na sorte
Nos separou na morte
Voltando a unir no mote
De um verso em contra mão
Pensa que penso eu
Que o poema é meu é teu
Foi o sonho que o escreveu
Lá no alto junto ao céu
Nas estrelas o enviou
Nas águas o despejou
Na terra o semeou
Minha escrita o arrancou
O teu verso o afagou
O poema por fim nasceu
A terra o reconheceu
A palavra o elegeu
Ideais que se cruzaram
Na estrada do pensamento
Por fim se encontraram
Em versos soltos no vento
21 março, 2009
««Bom dia Primavera««
Bom dia Primavera
Espreguicei-me como quem estende tentáculos querendo abraçar o sol
Num lento acordar recomeçando a andar
Chegaste Primavera
Contigo vieram os pássaros em bandos de ilusões
Contigo trouxeste as flores relembrando aromas e paixões
Sinto-me viva cheia de esperança, pronta para novas andanças
Tal como o urso que hiberna durante o frio Inverno
Hibernei durante o gélido crepúsculo de muitas primaveras
Acabei de abraçar as mais loucas quimeras
Como quem acaba de nascer e num reflexo de sobrevivência
Espalha seu choro aos quatro ventos
Talvez tenha sido o fio de esperança de um olhar perdido que me puxou para a vida
Mas sei que é obra tua Primavera
Quando se ama a terra com um amor talhado no mais recôndito recanto do ser Quando se nasce da terra sofrida dos campos em flor
Quando se chora porque a terra geme de dor,
Quando se escreve um poema em versos de amor
Não ficamos indiferentes ao teu chamamento
Abrimos os braços numa entrega sobrenatural,
Temendo que se perca esta força imensa que nos empurra para o peito do desconhecido
Por tudo isto neste dia, quero partilhar contigo a Primavera
«« Quero-te««
Quero-te
Como quem quer
A luz do dia
sonora melodia
Embala este crer
É crer
Crer até sem ver
E depois
Quero-te fascinação
Que envolve o coração
No sangue passa a correr
Meu peito a estremecer
Difícil é entender
Este crer
Assim sem ter
Ter ou não ter
Um crer assim
Destino será
Afinal quem saberá
Foi talhado ao nascer
Termina quando morrer
Pensando
Alguém me dirá
20 março, 2009
«« Será««
Será que um dia
Terás tempo para mim
Para me levares à beira mar
Me mostrares os pássaros a cantar
Nesse dia nada mais tenhas em que pensar
Dirás que sou exigente
Quero mais que toda a gente
Quero o sol, quero a lua
Quero sentir-me tua
Quero apenas
Que tenhas tempo para me amar
Será que algum dia
Estarei em primeiro lugar
Me levarás a dançar
Me farás flutuar
Num gesto de encantar
Tristemente acabei de acordar
Vi que estava a sonhar
Tão pouco tens para me dar
Eu é que teimo em não olhar
««Chamamento««
Olho-te cá de baixo
Junto ao rio
Onde dorme agora
Uma chave
Adulterando a paisagem
Em miragem
Estranha força esta
Que me chama na aragem
Ontem olhei-te de passagem
Reparei que estendes os braços
Nas pedras soltas
Que correm encosta abaixo
Talvez tentando que eu suba
Talvez pensando que eu ouça
Quem sabe sentindo meu choro
Relembrando-te castelo com vida
Dos meu tempos de menina
Deixei-te numa pedra escondida
Um poema sonhado,à partida
Como todos os sonhos
Perdeu-se no tempo, esfumou-se no ar
Só agora conseguiu voltar
Neste chamamento
Que me tira o sono o alento
Que me empurra em direcção
Ao que me pede o coração
Mas que quero renegar
Temendo o que poderei encontrar
Na sombra dessa muralha
Temendo não alcançar
Um poema a desbravar
Uma vida a meio caminho
Um verso a quem me dar
Temendo que seja tarde
Para amar
Castelo dos meus encantos
Porque insistes em me chamar
Na brisa que me afaga
O que tens para me contar
Quais os segredos que guardas
Que choro é que secaste
Que palavras escutaste
Que poema abraçaste
Porque a mim o queres dar
«« Pensa em mim««
Pensa em mim
Como um sonho uma miragem
Uma nuvem de passagem
Uma alma em desalento
Pensa em mim
Como a sombra do momento
Em que abriste o pensamento
Ao dia que enfim nasceu
Pensa que serei eu
O prumo que alinha o sentimento
De uma ideia perdida em tempo
Talhada em pedra fria
Quem sabe um dia
O meu o teu tormento
Se afoitem em contra vento
Se afaguem na poesia
19 março, 2009
«« Duvidas««
Duvida
Tanta duvida
Vão e vêm em delírio
Mar de duvidas
Olhei-te, olhaste
Será que me viste
Duvida
Será que sente
Que eu senti ali, vi
Sim eu vi
Essa duvida não existe
Vi a solidão no olhar
Sofrimento, incerteza
E duvidas
Tantas duvidas
Sair dali
A correr eu quis
Eu vi no andar
Ao afastar a seu lado
A duvida
Porque não respondi
Ás duvidas
E as respostas
Onde estão
Se nem eu te entendo
Coração aparvalhado
Ficaste calado
E agora agonizas
Nesta duvida
«« Se um dia me trouxeres flores««
Se algum dia me trouxeres flores
Traz margaridas, escolhe as silvestres
Resistem à chuva, ao vento agreste
Crescem no campo em veios de cores
Tem algo mais belo que flores campestres
Espalham plo campo lufadas de odores
Embelezam a terra em vistosas veste
Entregam-se ao sol, morrendo de amores
Se algum dia me trouxeres flores
Escolhe-as com a alma, escolhe-as simples
Aquelas, de cândida brancura
Assim nesse dia eu morra de amores
Troque o meu coração por um ramo de flores
Te enlace prá vida ensaiando a ternura
18 março, 2009
«« velhice««
Nessas rugas que trazes no rosto
Vejo a esperança de quem espera e na espera desespera
Nesse olhar brilhante, vejo a vida que geraste, para trás a deixaste
Vejo castelos que sonhaste, sonhos que abandonaste
Vejo todas as amarguras que escondeste
Em cada cabelo branco, vejo o desespero para criar os filhos
Vejo os anseio que neles depositas-te, vejo tudo o que não fizeste
Para que eles pudessem fazê-lo
Nas tuas mãos calejadas pelo cabo da enxada, vislumbro o suor escorrendo
Com que regaste estes campos, em águas límpidas de esperança
Mano a mano com outros homens da terra, que construíram quimeras
Que o vento tratou de levar, nada sobrou, restou esse olhar
Onde me encanto, sempre que te vejo nesse banco sentado
Parado, cismado, embriagado nas recordações que te trazem à lembrança
O tempo em que neste Alentejo, se olhava a noite como propicia ao descanso
E o novo dia como um novo alvorecer,
Nas mentes que em tempos sonharam que esta terra haveria de vencer.
Nada mais consigo fazer senão olhar-te esperar que um dia acabes por morrer
Nesse dia meu amigo lá estarei, um punhado de terra te oferecerei
Para que de uma vez por todas por este chão deixes de sofrer.
««Porque cobras vida««
Porque cobras vida
Se me renegas para segundo plano
Perdeste-te numa entrega remexida em socalcos
De uma terra, parca de tudo, em sangue
Vida que há muito deixou de acreditar
Nas águas paradas de desejos esvaziados
E depois cobras quando tento fazer-me ouvir
Como quem se agarra a corda prestes a quebrar
Talvez por nada mais me restar
Quem sabe por ainda acreditar
Sabes vida
Começo a questionar
Se vale ou não vale a pena, esperar
Que um dia acordes e repares que me entrego de alma nua
Que o pouco me basta, apenas me quero sentir tua
E depois vida
Começam a aparecer nuvens de incerteza
Neste horizonte limitado a que me renegaste
Sempre na espera, que me queiras, que me vejas
Que me ouças e desejes, será que nada mais existe
E se eu sair por aí de peito aberto alma nas mãos
Será que não encontro outra vida
Que tal como eu te questione
Uma vida em contra mão
Correndo veloz sem amarras nem correntes
Um vida que me faça ver-te como gente
Já pensaste em deixar de cobrar à vida
««Deixa-me estar««
Deixa-me estar
Mágoa nas entranhas
Assim só por estar
Lembranças tamanhas
Deixa-me estar
Comigo só
Deixa-me quebrar
Meu medos em pó
Deixa-me chorar
Não tenhas dó
Só estou a levar
Minhas dores pró
Pró alto da serra
Vou espalhá-las ao vento
Como quem enterra
Sementes de pensamento
Em centelhas de quimera
Deixa-me
Dormir sem tecto
Deixa-me
Sonhar com afecto
Por encontrar
Em matagais a desbravar
Mas agora deixa-me
Cansei de procurar
Talvez um dia
Quem sabe
Volte a tentar
Talvez
Acabe por encontrar
Um porto seguro
Onde possa chorar.
17 março, 2009
««Rapariga Alentejana««
Encantas nas cores de papoila vermelha
Caminhas nos regos das cearas de trigo
Vejo-te passar minha alma vai contigo
No malmequer amarelo que levas na orelha
Moçoila Alentejana eu te bendigo
Transmites ao andar uma leveza de abelha
Os rapazes te espreitam pelo postigo
Levemente embriagados nesse odor a groselha
Catraia viçosa cabelo solto ao vento
Germinas na terra em botão de rosa
Reflectes no olhar a esperança das gentes
Meu Deus eu te peço, nunca lhe tires o alento
Embala-lhe o sono se dormir ao relento
Ao despertar, acordará mulher corajosa
16 março, 2009
««Grito««
Grita no silencio
Palavras de quase nada
Mentira
Palavras de quase tudo
Em grito mudo
Gritos
Que o dia desconhece
Grita na debilidade
Uma dor que arrepia
De uma vida que padece
Tanta dor e desamor
De uma alma que asfixia
No medo
De alguém que atrofia
Grita no silêncio
Da noite escura tão fria
Responde-lhe o eco
Da solidão na amargura
Só pode ser loucura
Uma réstia de esperança
Que se recusa a ir
Por fim
Grita no descampado
De uma esperança retalhada
Que ao romper da alvorada
Abra as asas, e se afoite
Quando de novo se fez noite
Fechou os olhos ao mundo
No novo dia que raiou
Abriu os olhos e viu
Que por fim se afoitou
À coragem se abraçou
Pelos seus pés, se afastou
««Deixa-me dormir««
««Acorda-me««
15 março, 2009
««Ensaio-te««
Ensaio-te no arco íris
Numa chuva miudinha
Numa flor de anis
Nos frescos olivais
No voar da andorinha
Ensaio-te sonho meu
Num campo de girassol
Numa papoila vermelha
No esvoaçar de uma abelha
No trinar de um rouxinol
Ensaio-te e tenho medo
Que se rasgue a ilusão
Que no meio do arvoredo
Meu sonho tombe no chão
Se esfume na imensidão
Pensando tremo de medo
Que se quebre a ilusão
13 março, 2009
««Falar de sonhos««
Se eu te falar à noitinha
Dos meus sonhos de gaiata
Menina catraia, verdinha
Que a sonhar nunca se farta
Se eu te falar ao luar
Nos meus sonhos de mulher
Cansada de tanto sonhar
Tranquei-os num baú qualquer
Se eu te falar ao meio dia
Dos sonhos que agora carrego
Transportam-te todos os dias
Em comboios de desassossego
Se te falar amanhã
Dos sonhos que ainda não tive
Elevam-te a uma montanha
Em correntes de sonhos que sustive
Um sonho por nascer
Num sono profundo entrou
Num repente sem ninguém crer
Abriu os olhos,caminhou
12 março, 2009
««Luar de Agosto««
Quem dera ser um dia luar em Agosto
Quando a lua imensa nos sorri e enfeitiça
Tomara ser um rio que se espreguiça
Desaguar em cascata no teu rosto
Assim te cantava em voz roliça
Como quem prova intenso mosto
Numa languidez em chama mortiça
Um experimentar de imenso gosto
sonhara eu ter-te em meus braços
Ensaiando no vento, lentos compassos
Melodia ritmada, eterna sensação
De acordar aconchegada nos teus abraços
Desnudar-me de medos e embaraços
De olhos fechados entregar-me na tua mão
11 março, 2009
««Olhar de mulher««
Quem sente a morte, quem a sente assim
Como abismo vivido de um sonho adiado
Num olhar de mulher o reflexo deixado
Por pedaços de névoa envoltos em cetim
Repara nesse olhar escancarado
Retalhado com espada de marfim
Preso a um futuro quase sempre parado
Desespera nessa espera que não tem fim
Uma dor que transcende o sentido
De menina sem destino marcado
Porque à nascença no choro o apagou
Se sabes entender esses gemidos
De ais abafados do mundo escondidos
sorri, mostra-lhe o trilho que lá longe deixou
««Desnudas-me em vestes de mar««
Desnudas-me em vestes de mar
Nos abismos transfigurados do ser
Esqueço os medos, vivo os anseios de mulher
Deleito-me por fim nesse desnudar
Marés vivas de frases por dizer
Quando me olhas, transborda nesse olhar
Espuma sem sentido que teimas em não ver
De desejos oprimidos que julgas renegar
Enleias-me em sonhos de enfeitiçar
Afastas-me de mim na sede a saciar
Num germinar de desejos tragados
Num deserto que teimo em desbravar
Transportas-me em barcos a naufragar
Em tempos de prazeres inacabados
10 março, 2009
««Uivam os ventos««
Uivam os ventos na charneca tórrida
Parecem lamentos em línguas de esperança
Em terra moribunda, carente, esquecida
Num cantar dorido,entoam ecos de mudança
Olho-te no passado, chorando o presente
Terra de sangue, ressequida em lume
Ceifaram da lembrança em memória ausente
Os risos do povo, viraram queixume
Se no florir da primavera teus ais se esvaíssem
Se ressurgisses na madrugada , em sol
E os vales adormecidos em vida se abrissem
Ai meu Alentejo,largavas o passo de caracol
Quisessem os homens que os campos florissem
Que de novo renascesses, em flores de Girassol
««Plano tecnológico ou plano do erro lógico««
Coitado do Magalhães
Agora vai ser recolhido
Pelos erros que contem
Nos jogos educativos
De tão pequeno ficou reduzido
A bandeira da nação
Acho que perdeu o sentido
Antes de entrar em acção
Em coisas de educação
Tem que haver o maior cuidado
Primeiro focar a visão
No saber do educado
Magalhães de erros carregado
Que fizeste com a língua
Tantos meses apregoado
Para no fim morreres à mingua
As letras morrem à mingua
Falta de acentos e cedilhas
Camões o pai da língua
Se voltasse punha-se a milhas
09 março, 2009
««Desajeitada««
Peço desculpa por ser quem sou
Desajeitada na maneira de entrega
O coração nas mãos, se me dou é porque estou
Não tinjo o pensar de tinta que escorrega
Peço desculpa à dor por entende-la
Por penetrar no seu mais secreto sentir
Por a sondar, pensar, conseguir descreve-la
Por a amar como a um filho acabado de parir
Peço desculpa ao poeta, por ler nas entrelinhas
Alguns medos, anseios, risos, por vezes a mágoa
De uma escrita que sem querer embarco minha
Mas nunca, nunca me vestirei de mingua
Por ocultar o que o coração adivinha
Ao tropeçar na palavra, que alguém chama sua
08 março, 2009
««Dá-me gosto««
Dá-me gosto
Que estranha palavra
Quando se diz gostar
Dá-me gosto
Que venhas à minha festa
Que me leias ou ouças
Mas nunca amo-te
E dá-me gosto
Porque hoje posso estar
A minha vidinha
Deu-me uma aberta
Então dá-me gosto
Que contra gosto
Querer sem limites
Amar sem impor
Arriscar porque existe
Saber-se amor
Isto sim é entrega
Quando há brilho no rosto
Infringir as regras
Esquecer que dá gosto
Dá-me gosto uma feijoada
Uma sardinha assada
Ir a uma garraiada
Dá-me gosto, fazer-me de parva.
«« Ermida««
Será que me vês de terra árida
Onde nem as ervas daninhas enraízam
Coberta de tojo , feita em pedra
Onde os pardais seus voos agilizam
Será que sou planície ressequida
Onde podes decompor os teus medos
Olha-me e diz, porque me vês ermida
Onde podes redimir teus segredos
Sacrifícios, nada mais são que amor
Quando feitos de olhos fechados no nada
Um nada que se oferece sem impor
Limites que se ultrapassam, em cada
Partilha dada, sem nada contrapor
Diz, porque me fazes sentir usada
«« Encontro com a razão««
Tenho um encontro marcado com a razão
No cimo de um monte de terra lavrada
Encontro cravejado na imaginação
Em pontas de espigas de ceara dourada
Momento adiado na vida que teima em fugir
Pela planície incendiada num rubro clarão
Dos desejos e anseio perdidos no sentir
Do que será desnudar minha alma na tua mão
Pelos atalhos sinuosos de uma ilusão arrastada
Encontro-me numa encruzilhada de limites
Impostos pela força da terra desbravada
O sol poente traz-me a certeza que existes
Imensa força viva de paixão almejada
Nas nossas almas inquietas, vasculhando a madrugada
««Quatro paredes««
Entre quatro paredes de frustração
Onde o silencio é rei e senhor
Vou pintando pontos de interrogação
Num quadro sombrio mesclado de ardor
Navego à deriva na recordação
Das ilusões que sentia ao querer transpor
As amarras que atavam o meu coração
Que me faziam acreditar em sonhos de amor
Vou perdendo o brilho, esbatendo a cor
Cada vez mais ciente da realidade
Não existem sonhos, muito menos de amor
Quase encaro com serenidade
O meu destino é viver sem o sabor
De alguém que diga , só teu de verdade
07 março, 2009
««Interrogo««
Interrogo as incertezas que me visitam
Nas horas em que o silêncio fica mais silêncio
Não compreendo, imploro que repitam
Digam, porque me sinto atulhada em vazio
Interrogo o nada frio que me visita
Por entre o silencio dos lençóis de linho
Porque razão me sinto gelada e faminta
Sem conseguir decifrar, qual o meu caminho
Diz solidão, de que servem momentos de cor
Repartidos pelas horas mornas do meio dia
Se é de noite que a vida se torna incolor
O que fazer quando sufoco na alma vazia
Uma vontade imensa que me impele a transpor
Os limites impostos, por migalhas de um só dia
««Vasculho a madrugada««
Vasculho a madrugada num olhar
Inquieto no sentir da claridade
Procuro-te em versos de encantar
Meu porto seguro em mar de saudade
Vislumbro o sol que nasce devagar
Lá longe onde nasce a liberdade
Sempre ao sul do poema a desbravar
Em rimas de um verso sem idade
Por fim respondes ao chamamento
Da minha alma inquieta na paisagem
E falas-me na melodia do vento
Palavras de amor, encantamento
Em cantigas ritmadas pela aragem
Olho os céus, vislumbro-te por um momento
06 março, 2009
«« Tenho um encontro««
Tenho um encontro marcado com as palavras
À beira de um lago salgado na tristeza
Vamos conversar sobre vidas retalhadas
Pelas espadas afiadas da incerteza
Tenho um encontro marcado no infinito
Trémulo reflexo de ti, meu poema inacabado
Vou confessar-te as vezes em que insisto
Em procurar-te nas pedras de um castelo encantado
Nesse dia se ouvirá uma melodia celestial
Tocada em acordes de encantamento
Elevada aos céus no aroma de um roseiral
Porque meu amor esse encontro sem tempo
Foi marcado pela força de um vendaval
No mistério de um verso de vida sedento
««Poeta rasgado««
Desnudo-te em cada sílaba escrita
Penetro no mais longínquo recanto da tua alma
Poeta rasgado na palavra infinita
De versos mornos, que me afagam na tarde calma
Palmilho por lonjuras levadas na corrente
Desse mar imenso, onde germinam os sentidos
Deleito-me nos teus poemas copiosamente
Retalhos de dor, brotam no amor de um poema entristecido
Poeta dos meus sonhos retidos em cristal transparente
Elevas o meu sentir nos braços do vento, num voo picado
Porque escreves o que teimo em não ver copiosamente
Soluças no silêncio de um poema apaixonado
Filamentos que me transportam airosamente
Pelo meu passado, num presente inacabado
04 março, 2009
««Loucos««
Deixem o mundo aos loucos
Os sãos estão em declínio
Dêem o mundo aos loucos
Eles mantêm o fascínio
Da loucura transparente
Talvez acabem com o martírio
De um mundo tão dependente
Deixem sonhar o demente
Sua loucura é sadia
Teima em chamar de gente
A noite que queria ser dia
Louco que a mão estendia
Apontando a degradação
Da vida que dependia
De outra vida em escravidão
Os loucos jamais calarão
O seu grito de revolta
Ao verem tombados plo chão
Pedaços de criança morta
Nesta era que está tão torta
A loucura faz sentido
Apenas o louco transporta
Nos seus olhos o colorido
De os homens viverem unidos
Dêem o mundo aos loucos
Os sãos estão em declínio
Por tão pouco.
««Inverno de saudade««
Num Inverno de saudade, triste a sorte minha
Caminho por entre o crepúsculo, transbordante da dor
Esta saudade nefasta encontra-me sempre sozinha
Não deixa que em mim germine, uma nova chama de amor
Minha saudade gasta em descontentamento
Afoga-se nas águas de um rio transbordante
De palpitações, sussurros presos num momento
Saudade, já reflectes uma sombra decadente
Desnudo-me saudade na indiferença
Da libertinagem que a ti me segura
Entristece-me saudade, viraste minha crença
Transporto-te na alma, entre réstias de loucura
Em alamedas sem cor trilhadas à nascença
Trémula saudade que te afogaste em ternura
03 março, 2009
««Saudade popular««
Saudades das suas mãos
Remexendo o meu cabelo
De noitinha ao serão
Junto ao muro do castelo
Saudades dessa aflição
De como temia perdê-lo
Com o tempo vi que não
Que não era assim tão belo
Dei-lhe um grande bofetão
Pisei-lhe o tornozelo
Ainda o deitei ao chão
E cheguei-lhe a roupa ao pêlo
Saudades que pesadelo
Desse namoro de verão
O rapaz era um caramelo
Só eu dizia que não
Minha mãe com o chinelo
Trouxe-me à razão
Pela encosta era vê-lo
A fugir em aflição
Meu namoro no castelo
Virou mexerico de verão
Ainda hoje sinto o apelo
De me embalar na paixão
««Saudade viraste fado««
Saudade és tão Portuguesa
Pelo mundo estás espalhada
Fazes parte da tristeza
Que no cais está ancorada
Nas correntes foste levada
Aos quatro cantos do mundo
Saudade mulher amada
De um Português vagabundo
Vagabundo, poeta fecundo
Levas-te saudade a eito
Teu amor foi tão profundo
Que a cantaste em verso insuspeito
Ai saudade que grande feito
De Camões até Pessoa
Zarpaste levando no peito
Saudades desta Lisboa
Por terras da Índia, de Goa
Do Brasil a Santiago
Pelas mãos de Malhoa
Saudade viraste fado
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