30 abril, 2010

«« Musa ««


Esta noite sonhei
Não um sonho qualquer
Sonhei com um malmequer
Abraçando uma papoila
Vistosa e casadoira
Esta noite vislumbrei
O meu país ausente
Remava contra corrente
Nas mãos molhos de cravos
Amarelos e vermelhos
Atados por fita verde
No meu sonho tinha sede
De água cristalina
Bebida numa campina
Nos campos do Ribatejo
Cheirar o doce poejo
Ali no meu Alentejo
Dou um passo e logo vejo
O leito do rio Tejo
A seguir a Estremadura
Mostra-se feito moldura
De uma tela de Malhoa
Deixo para trás Lisboa
E rumo a Trás os Montes
No Minho há tantas flores
São mulheres de tez clara
Olhos verdes , vistosa cara
Cheguei então ao Porto
A Ribeira feita Horto
O mercado das saudades
Inspira tantas canções
Agora estou em Viseu
Agradeço olhando o céu
Por esta terra de sol
Dou por mim estou no farol
De uma ilha dos Açores
O seu nome será Pico
Pasmada por ali fico
Preciso ir à Madeira
Abraçar uma bordadeira
Quem sabe me borde a chave
E me leve para o Algarve
Num bordado celestial
Meu país é pedestal
Dos meus sonhos, minha musa
Adoro esta terra confusa
Por fim acordei
De seguida eu chorei
Encontrei-me na Planície
Lá atrás na meninice
Olhando as nuvens que passam
São as mãos que nos enlaçam
Gentes de norte a sul
Portugal do céu azul.

29 abril, 2010

«« Mulher ««



Porque não lhe encontro jeito algum
Na fragilidade da alma humana
Em todos os momentos e nenhum
Se reparte numa sorte insana

Porque sempre vejo tudo em comum
Estado puro de apatia, nirvana
Olhem-me como angustiante jejum
Ou simplesmente como louca insana

Será a alma uma auréola vistosa
Outras vezes nuvem cor - de - rosa
Serei eu eterna, ou funesta curiosa

Que vejo em cada palavra por dizer
Um cubo giratório de uma alma a doer
Um grito, estou aqui, olha sou mulher.

27 abril, 2010

«« Chaga ««


Há uma lágrima que desliza
Uma frase por dizer
Um suspiro que eterniza
Meu amor o meu viver
No meu peito a esconder

As lágrimas são os ecos
De uma frase encoberta
Uma nova descoberta
De mundos incompletos
Aos poucos fecha, esta chaga aberta.

24 abril, 2010

«« Caso sério ««


Não me peçam para escrever versos de amor
Nem para conversar com o luar
Não me peçam para deambular ao sabor
Da imaginação por desembrulhar

O amor é caso sério
É raiz quadrada em matemática
É musica de flauta mágica
Que nos envolve no seu mistério
De amor não quero falar
Muito menos escrever o seu sentido
O amor é um sussurro ao ouvido
Não me peçam para d`le falar.

Júlia Soares ( pseudónimo )

23 abril, 2010

«« O que dizes povo««


O que dizes povo?
Porque choras…Povo
Conta-me quero entender
Porque só agora começas a gemer

Porque parecem curvas as tuas lutas
Dormiste… em… fogueira de acendalhas

Sabes povo…
Nesta hora, na distância marcada pelo tempo
Neste mês de Abril, mês de águas mil
Mil lutas e labutas
Tempo em que se erguem novas disputas

Agora…medito neste país
Tresmalhado, em quimeras afogado
Passaste um mau bocado
Depressa esqueceste, depressa te absolveste
Dos deveres, Para contigo, para com o teu país

Em Democracia
Enquanto tu dormias, alguém se abastecia
Daquilo que tu esquecias
Nesse deixa andar, safa-se quem safar
Alguém cá ficará para contar

Agora povo
Começas a acordar, choras, e lamentas
Levantas os braços em oração
Tão grande é a aflição

Acordaste por fim, Ainda irás a tempo
Ai de mim…
Pega a Democracia de frente
Lembra-te do teu pai e avô valente
Que mesmo na tortura, na fome e na guerra
Nunca deixaram de saber, quem eram,
O que deles esperava esta terra…

Por isso povo
Levanta os braços
Besunta-te na terra
Abraça essa quimera sem era.

.......................


Poema escrito em Abril de 2009, agora modificado.

«« Recados ( I I ) ««


Porque me pesa a alma nesta noite lânguida, nem a lua aparece,preferiu ficar sozinha longe do meu olhar, olhar que se fecha a cada bater de hora, num contar interminável de minutos e segundos sem te ter.
Porque me pesa o peso dos dias, procuro correr contra o tempo em cada esquina da vida, num tempo que se esqueceu que a vida deve ser vivida , aos pares.
Porque me pesam os olhos, fecho-os cansada de nada, o mesmo nada que carrego feito em retalhos, aqui e ali pespontados pelo riso, mas os pespontos mais marcantes são os do choro em convulsão.
E o peito, porque me pesa, numa falta triunfal, sobrevive sob tudo o resto, como anémona Bizantina, quem sabe o meu coração deixou de ser vermelho e passou a rosa, desmaiado pelo silêncio de noites como esta.
E o peso de pouco saber, e apenas ter sensações de que algo está mal, que responder, que falar, quando a distância e o vazio tomam conta de mim e me afastam para o recanto mais frio da noite.
Meu amor, porque me pesa a distância, medida metricamente pelas horas sem dormir.
Porque me pesam os sonhos, o crer e até o sentir.
Deixei de sonhar num qualquer dia de Inverno, o Inverno do meu peso
O crer faz tempo que o enterrei no fundo do peito.
Mas o sentir esse não me larga, transporto-o às costas feito xaile de muitas camadas
Sinto num sentir enervado, que por mais que lute contra o tempo, ele será sempre meu aliado. É ele que me ouve, sempre que o peso dos dias e das noites lânguidas se torna demasiado pesado.

22 abril, 2010

«« Alentejo vivo ««


Carrego no peito
Uma força ardente
Que me faz caminhar
Ao encontro das gentes

Carrego no peito
Alentejo vivo
Bênção e castigo
Alma sem abrigo

Coberta de paixão

Pela terra árida
Pelo verde ao longe
Pelo monte velho
Pela tez morena
Pela flor do campo

Carrego no peito
Gaiatos aos gritos
Apanhando grilos
Ou jogando ao eixo

Voando nas asas
Do vento do sul
Dormindo ao relento
No restolho seco
Bebendo na fonte
Agua que sacia
Uma sede imensa
Pele em labareda

O céu é azul
Imenso oceano
Planície berço
De amor intenso
É mãe e é pai
Das gentes do campo
É senhora e dona
De um belo canto.

21 abril, 2010

«« Deriva ««


Não me deixes à deriva
Fico como o vento suão
Sem ter norte, sem ter chão
Sem restolho para beijar
Sem montado para acariciar

Não me deixes à deriva
Sem noticias, sem sinal
Pareço rio sem água
Rebanho que morre à mingua
Numa seca infernal

À deriva não me deixes
O norte onde é que fica
Enleiam-me as saudades
Até o vento geme em suplica

20 abril, 2010

«« Dor ««


A dor é arame farpado
É lençol e até mortalha
É um ser amedrontado
É braseiro na fornalha

Quem dera prender a agonia
Que carrego sem se ver
É translúcida esta ulcera a doer
É dor insípida e fria
Quem dera deita-la a arder
Num braseiro de carvão
Em ácido em abolição
Talvez assim se pudesse ver
A dor cravada a moer
Que carrego no coração.

19 abril, 2010

«« Abro a boca ««


Abro a boca
Escancarando-a ao mundo
Estico o peito num gemido profundo

Se te parece coisa pouca
Espreita o meu caminhar vagabundo
Desnorteado pelas valetas
Onde apodrecem os loucos
Aqueles a quem chamam poetas
De coisa nenhuma, vestem-se de arestas
Polidas com lágrimas e ouvidos moucos
Escrevem, escrevem sem artefactos
Parecem não saber que a escrita é besta
Que parte apressada em linha recta
Acerta no alvo, e nos lábios
Entre-olham-se risos e choros
Nos lábios de um poeta louco
Não adormece palavra

Abro a boca
Escancarando o pensamento
Deixem-me rir feito louca
Daquilo que escrevo e lhe acrescento.

«« Já não sei escrever ««


Já não sei escrever
Sou arca vazia
O que fazer
Os versos fogem, quem diria

Nos dedos trémulos
Pendura-se a caneta
Murmura que não escreve, está gasta
Recusa-se por entre anelos
Que nada mais são
Que a mortalha do poeta
Mas que porra esta
Já não sei escrever, escrever até mais não.

18 abril, 2010

««Quero dizer-te ««


Quero dizer-te
Meu amor, eu sigo em frente
Corro descalça de tudo
Faço da vida meu escudo
Meu amor, meu crer é feudo
Não há força que alimente
Esta vontade demente
Mesmo assim consciente
Que ao longe vira a página

Quero dizer-te
Que o sonho por vezes amaina
Parece que adormece
Fico estática, presa na rotina
De um tempo que amarelece
E depois olho por cima do ombro
A tela que vislumbro é fria
Atrás da noite vem o dia
E eu cada vez mais vazia
Quero dizer-te sigo em frente
Mas o crer não chega
Sinto que remo contra a corrente

Meu amor, é a minha vontade que escorrega
Pela areia que se desfaz em nada
No nada que sou, ilusão aparente.

«« Eu e a cadeira ««


Apetece-me ficar sentada
Esperando que seja tempo
Talvez, me chames inactiva
Engano é apenas o momento
De ser indutiva

Entrei numa dormência sem sentido
No tempo que me sobra
A todas as horas lhe acrescento tempo
Por isso apetece-me ficar sentada
Como quem espera alimento

Já sei, vais dizer levanta-te
Meu amor, a cadeira não me deixa
Faz um enorme banzé
Refila e até faz queixa
Ao tempo num lamiré

Apetece-me ficar sentada
Há espera que seja tempo
De correr contra a nortada
Que gira em movimento
Brusco, em rajada desnorteada

Por isso meu amor, deixa-me
Tomou conta de mim em dolência
Um emaranhado que me tira a fé
E a cadeira é a amarra
Que me sustém além

Do tempo em que espero
Meu amor, não me olhes assim
O tempo é curto, eu sei e quero
Acrescentar-lhe por ti e por mim
Longos minutos, aqueles em que te espero.

16 abril, 2010

«« Recantos da noite ««


Para mim a noite é fria
De uma frieza suprema
Seja Inverno ou não
É neve branca que escorria
Na palma da minha mão
Húmida e por fim amena

É gélida na frustração
Do olhar que não vislumbra
Noite sim e noite não

Acomodo o meu pensar
Em mil jeitos de amar
Outros tantos de agradar
À noite que não acaba

Para mim a noite é fria
Assim que vislumbro o dia
Fecho os olhos e a sorrir
Talvez consiga dormir
Antes que chegue a luz do dia

Ou quem sabe qualquer dia

Dormir não precise mais
E a neve que a noite trás
Se derreta e seja sagaz
Me envolva lentamente
E eu morra docemente.

15 abril, 2010

«« Parede branca ««


Estou aqui parada olhando a parede branca
É tão branca e deslavada
Nem uma sombra se atreve a violar
A brancura imaculada daquela parede branca
E eu aqui sentada
Desenhando sonhos na parede a saltitar
Aqui desenho uma amora
Mais adiante um roseiral
Lá ao fundo um riacho de agua cristalina
Onde afogo os meus ais
Vão ao fundo para logo regressar
E ficam ali plantados, na parede de cor neutra
Há, como eu queria
Que esta parede branca, me esbatesse a frieza
Que volta e meia me envolve
Será que sou eu
Que não vejo para lá da parede
Neste instante é ela que me olha
Com um brilho diferente
O branco é mais branco, é reluzente
Olha, estão a cintilar os meus gritos
Envoltos na mortalha do imaginário
Agora elevam-se pelo ar
Caminham de mãos dadas, num bailado hilariante
Convidam-me a dançar
E eu, olho pasmada
Esta parede branca que é o reflexo do meu eu
Onde nada entra neste dia
Senão a brancura da ausência
Que de tão fria que é,
As minhas ideias geraram-na branca
Agora vou andando, e olhando de soslaio
Aquela parede branca
Aceno-lhe num adeus imaginário
Segredo-lhe ainda, nunca me deixes parar de te olhar.

13 abril, 2010

«« Sinto-te a falta ««


Esta tarde não sei o que sou
Talvez seja um barco sem remos
Ou quem sabe o vento que antepôs
O silencio, o muro onde estou
Está amarelecido pelo sol
Encosto-me a ele e sigo no rol
Do meu pensamento, leva-me a ti

Esta tarde sinto-te a falta
O dia escureceu mais cedo
Ainda tive tempo de dizer-lhe um segredo
Preciso de ti, meu amor tenho medo.

12 abril, 2010

«« Orvalhadas ««


O amor não se explica
Acontece, não tem forma nem lógica
Aparece em alarido, ou então parece preguiça
Esticando-se ao sol, ensaiando uma dança
leve,num repente em alvoroço uma flauta mágica
Entoa uma nota frenética
O pano cai, o coração explode pelo segundo acto.

Em cena dois olhares que se abraçam
Respiração ofegante, mãos suadas
Assim se vislumbram as orvalhadas
Das manhãs de Maio, enquanto os corações se enlaçam

«« Tempo ««


Porque corro contra o tempo
Se o tempo não tem tempo
É inoculo parece cata-vento
Porque corro, em desalento
Pareço pião na mão do menino
Danço, flutuo presa na ponta da corda
Vira, revira e torna a virar, reviravolta
Perco-me sem tempo, que desatino
Acho que não passo de passatempo

Nas mãos traiçoeiras do gasto tempo
Se lhe virar as costas, talvez se suspenda na corda.

09 abril, 2010

«« Poetas e poemas ««


O poema é quando um homem quiser
Ou será uma qualquer mulher
Plagiando o poeta, um filho a nascer
Um poeta só é se o mundo o dizer

Um poema nasce mesmo sem rimas
Raios me partam se lhe encontro jeito
Nas malditas palavras vindas do peito
São adagas não querendo ser finas
Um poeta nasce ao amanhecer
Um punhado de nada, versos a escrever
Serão os meus olhos que querem ver
Será um poema a meu entender.

08 abril, 2010

«« A lua e o pastor ««



Uma lua minguante, a debilidade esfumada
Uma lua minguante é sinal de fim de ciclo
A debilidade esfumada na lua crescente inebriada
Lá vem a lua nova, já vem a caminho

Quem p´rá lua olhar de madrugada
Verá um braçado de lenha, carregado por um velho
Dizem que é o moiral da noite esgotada
Espera… acabo de ouvir a cegonha no ninho

E acabo de ouvir ao longe o pastor, assobia ao cão
O rebanho espera agitado, que o pastor abra a cancela
E saltam as ovelhas aos prantos, méeeee… o dia se revela
No horizonte espreita a lua ensonada

Lua, lua, minha madrinha, agora já é de manhãzinha
Vai dormir lua redonda, pisca o olho ao sol em brasa
Deixa-o entrar pela fresta da janela, senão atrasa
O pastor que vai p´rá lida, lá está ele na lua, e vai sozinho

«« Recados ( I ) ««


Se eu te pedir, não me olhes é porque os dias morreram e as searas perderam o verde viçoso, o Alentejo ficou inundado de flores azuis, são o reflexo do céu num deserto de areia, a miragem entre o limite estonteante da imaginação.
Se eu te pedir não me queiras, vira-me as costas e volta-te num repente, toma-me nos braços, tal como a terra toma o sobreiro, e a sua sombra magistral alberga as almas em fuga pela planície em chama.
Se eu te pedir não me beijes, aí, olha-me apenas, bem no fundo dos meus olhos verás um rio, é o Guadiana nas tarde calmas de verão, repara nas estrelas cintilantes que se vislumbram no céu rubro, pelo sol de Agosto, nesse instante meu amor, não digas nada, deixa que encoste a cabeça no teu ombro, à espera que seja beijada.
Se eu te disser estou cansada, é porque não dormi na noite anterior, abri a janela do quarto e contei as estrelas, pela via láctea vislumbrei o teu vulto, olhei, reparei então que me acenavas, num gesto desmedido, lançavas-me beijos, olhei de novo, eram estrelas cadentes, que traçavam o céu por cima da cidade, na sua cauda traziam os teus sonhos, dormias ali ao lado.
Se eu te disser que te amo, quero ser levada a sério, igual ao trigo loiro que em tempos cobriu o campo, quero que sintas ao tomares-me a mão, as raízes entranhadas da azinheira onde as cotovias fazem os ninhos, ao escutares o seu trinado escutas a minha voz num fado, bairrista e dolente onde te cantarei em versos estridentes, meu amor é para sempre.

«« Pedaços de marfim ««


Uma lágrima caiu, furtiva, foi um grito
Silencioso, de quem contém a amargura
De um desconhecimento que leva à loucura
Em cada lágrima retraída me expiro

Não olhes, finge que não vês, ainda assim
Escuta o bater do coração, repara no compasso
Apressado, ele te falará do meu fracasso
E da minha sombra, onde caem pedaços de marfim

São nesgas de sonhos, retalhos de efémeras ilusões
São o ondular ao vento de quimeras e paixões
São pétalas de rosa em cada beijo que te dei

Pedaços de marfim, ou bocados de mim
São a mesma coisa, são flores do meu jardim
Aquelas que te ofereço, em todas as vidas que te amei

«« Oásis ««


Sou uma sombra sem oásis, nem palmeiras
Na ponta dos dedos ainda escorre a seiva
Que em outros tempos corria intempestiva
Que tentava derrubar todas as fronteiras

As de pedra e cal, e as ténues e imaginárias
As fronteiras da mente de poeta cativa
Do olhar sob o qual via o mundo, viva
Era a expressão coberta de ideias amontoadas

Mas hoje, sobe os cabelos soltos, fios de neve
Fragmentos que aqui e acolá sobrevivem
Envoltos em nuance estúpida mas leve

Até essa leveza me pesa, mas não ajuízem
Por detrás da sombra pernoita o oásis
E os dedos só esperam que as ideias enraízem

05 abril, 2010

«« Fedelho... do espelho ««


Olhei o espelho
Fiquei embasbacada
Me deu um conselho
Mulher, não fiques parada

Salta pela janela
Atenção, um salto equilibrado
Ou então salta pela telha do telhado
Que a porta só serve para espreitadela
Olhei o fedelho
Sem perceber nada
Olhou-me matreiro
Menina, a porta está entaipada.

02 abril, 2010

«« Sexta Feira Santa ««


Sexta Feira Santa
Vou rezar em campo aberto
Talvez descubra a campa
Onde enterraram o que é certo

Minha fé está abalada
Não é de agora é de há muito
Entrei num nefasto deserto
Sobreposto por grossa camada
De desilusão, e mentira
De crenças que não são nada
Minha fé está abalada
E a culpa é do homem esperto.

.........Feliz Páscoa a todos os que me lêem, o meu carinho e obrigado, mas estou como o coelho nada tenho a ver com essa coisa dos ovos.

01 abril, 2010

«« O desculpar silencioso ««


Sabem o que mais me chateia, é o desculpar silencioso das massas, esse sim é o grande retrocesso da humanidade, o desculpar silencioso, a retórica do coitadinho lá estará Deus para o julgar.
Estou a ver o ar de espanto de alguns que me vão ler, que logo pensarão o que vai ela aprontar desta vez, ou melhor quem será a coitada da vitima, o que vocês não sabem é que a vitima desta vez sou eu, eu, que bato três vezes com a mão no peito ao me levantar, que rezo antes de cada refeição, e antes de me deitar também.

Acreditaram, pois não passa de uma grande mentira, longe vão os tempos em que acreditava em certas coisas.

Mas o desculpar silencioso continua atravessado, depois deste desabafo.

Porque não se desculpam os coitados dos homossexuais que querem ver os seus direitos consagrados igual a qualquer cidadão de pleno direito, e digo coitados, porque bato com a mão no peito de cada vez que visto a capa e a espada e rumo à avenida da Liberdade, para gritar alto e bom som, não ao casamento homossexual, não à adopção por cidadãos de segunda sádicos e masoquistas, que em nada mais pensam que molestar criancinhas pobres e inocentes. Nasceu uma mãe para ver isto.

Não faz mal se essas mesmas crianças forem violadas pelo pai ou pela mãe, pelo tio pela prima pelo professor, se passarem fome e receberem maus tratos permanentemente, não, isso Deus se incumbirá, agora aos homossexuais nunca!

Por acaso conheço alguns que dariam bons pais, tenho quase certeza.

Mas o raio do desculpar continua a martelar-me o sentido

Porque não desculpo as mulheres que em plena consciência querem abortar, porque são elas que devem decidir sobre a sua vida e sobre a dos filhos que inconscientemente ou conscientemente geraram, para não falar das violadas e estropiadas, essas são raia miúda, porque voltei a vestir a maldita da capa e a pegar na espada, e lá fui eu, num não heróico contra um referendo de um país leviano, porque gritei em todas as homilias repetidamente, não ao aborto, sim à vida.

Porque é mentira.

Porque eu sou a favor do aborto, cansei-me de ver mulheres a sofrer uma vida inteira por se julgarem pecadoras e inferiores a todas as outras.
Porque eu sou a favor do casamento homossexual, ou não fosse o bendito casamento nada mais que um contrato cada vez menos vitalício, que cada um assina sempre que quer, e quando bem quer, para não falar da feira de vaidades que quase sempre envolve o dito casamento ficam os pais endividados e os pombinhos ao fim de um ano já se estão a divorciar, ás vezes menos que isso, o padre esse fica satisfeito cumpriu o seu divino papel, unir um homem e uma mulher segunda as leis da santa madre igreja, porque sou a favor, se um casal homossexual tiver uma vida estável tanto financeiramente como afectivamente, tem o direito de facultar ás crianças que enchem os lares para menores deste pais, sujeitas ás mais variadas atrocidades ( lembrei-me agora da Casa Pia por onde andará esse processo ), tem o direito de proteger e dar uma vida digna a essas crianças, já que a sociedade na maioria das vezes não o consegue fazer.


Mas lá vem a desculpa de novo.

Porque será o silencio, tão silencioso em redor das ultimas noticias vindas a publico sobre a pedofilia praticada por padres católicos contra menores aos seus cuidados.

Li esta manhã qualquer coisa que dizia, mais ou menos isto, vitimas querem que sua santidade o papa seja chamado a depor, de seguida lia-se.

A santa igreja prepara já a respectiva defesa, uma das alegações principais é a de que sua santidade como chefe de estado, está abrangido pela imunidade diplomática.

Não sei se ria se chore, sua santidade foi a (África) a um dos países onde mais se morre com sida, e teve a brilhante ideia de condenar o uso do preservativo assim que saiu do avião,( isto passou-se no ano transacto) continua a levantar o dedo contra o aborto, chamando-lhe crime contra a humanidade, e agora quer imunidade diplomática, apenas porque sua santidade tem conhecimento da maioria dos abusos contra menores desde há algumas décadas e preferiu camuflar os casos e tapar o sol com a peneira.

Pois é o raio da desculpa que me continua a enevoar o cérebro desde esta manhã,

Agora vou rezar três pais nossos e três Ave Marias em nome do Pai do Filho e do que a gente Quiser, porque estou chateada, e vou vingar-me na próxima manifestação que a minha santa fé e sobretudo a minha moral me exija que faça.

E tudo isto porque é tempo de Páscoa, e dizem que existiu um Homem que morreu para limpar os nossos pecados.

Lembrei-me agora, se Ele morreu para me limpar a alma posso pecar à vontade. Amem.

««Tempo de Páscoa numa igreja caótica.««


Não faz sentido, é tempo de Páscoa
Olho em redor e deixei de lhe encontrar significado
Em cada página de jornal, salta à vista o pecado
Aquele que teimam em apontar, há toa

Nas homilias omissas e submissas
Em cada sinal da cruz, atacam o pecador
A mulher que aborta num mar de dor
Aquela que quer liberdade sobre as agruras

Um desviar de atenção, desculpem mas estou em dia não
Não, não pensem que é um não qualquer
É um não de mãe e mulher
A quem roubaram o acreditar, na suposta absolvição

Daqueles que tinham o dever, de ensinar a arte de amar
Funcionários de uma igreja caótica, cheia de mofo e bafio
Cheira a estrume, desculpem mais uma vez o meu arrepio
Em cada noticia sobre pedofilia, em cada tentar abafar

Que aquilo que mais tresanda numa igreja caótica
Não é o laxismo comum àqueles a quem chamam inferiores
Num sinal da cruz ou num credo imperfeito se escondem os crimes
Estará Jesus olhando o mundo numa Paixão, simbólica.

Quem sabe não fique pedra sobre pedra
Quem sabe aqueles que deviam defender a igreja
Sejam o seu desmoronar de bandeja
Porque os caminhos são tortuosos e a igreja se esquece de ser Cátedra.