30 janeiro, 2009

««Dança««


Baila meu pensamento
Uma dança desorganizada
Ensaia neste momento
Uma valsa rebuscada

Dançando sigo apressada
Meus passos batem no chão
Numa dança desvairada
Pelo espaço do salão

Ilusão de uma paixão
De dois corpos flutuando
Unidos na sedução
Retidos na imaginação
Em silêncio se adorando

Baila , baila coração
Nunca percas o bailar
Não atrofies a sensação
Deste doce saltitar

29 janeiro, 2009

««Jamais morrerás««



Pinta nas linhas sílabas e pontos
junta-lhe as virgulas,os acentos
Escreve poemas, eternos contos
cheios de risos, choros, lamentos

Sonetos, poemas, ternos acrósticos
de mão em mão correm sem tempo
Uma certa vez perderam contexto
de seguida ganharam alento

A voz do poeta se levantará
em sonhos de homem que não dorme
sua alma na escrita ao sol brilhará

Escreve poeta, não deixes para trás
rimas perdidas, filhos sem nome
acredita poeta, jamais morrerás

««Sangue e dor««


Os campos desta terra trigueira
emanam uma beleza especial
Terra de soberbas azinheiras
perdidas nos confins de Portugal

Moças cantam em trova brejeira
doce cantiga , poema ancestral
Melodia de uma vida inteira
que cantam em tom soberbo, abismal

Ai minha terra, enorme clamor
estás cravada na minha mente
corres-me no sangue com tanta dor

Olhos no céu te imploro Senhor
dá um novo alento a estas gentes
fá-los sonhar, com um mundo de amor

27 janeiro, 2009

««Resgate««


Gostava de te ter na minha mão
Sentir-te,renascer,germinar,estremecer
Sentir o saltitar em eclosão
Do teu sangue nas veias a correr

Ah, como eu queria ser
A força que te faz vibrar
Como eu queria saber dizer
As palavras que tu queres escutar

Meu amor quero acreditar
Nos sentidos a sentir, um poema
Que nada mais nos pode separar

Meu amor sei que vale a pena
Pensar grande e sempre resgatar
A vida,
Em uma nova forma de te amar

26 janeiro, 2009

««Podemos brilhar ao sol««


Podes brilhar ao sol
O universo de branco pintar
Vozes Gritarão Amor
Os homens têm o poder de pensar
Sempre que um de nós sonhar, as almas se podem tocar

Irmãos unidos na garra
Remarão por águas claras
Mostrarão ao outro irmão
A força de uma palavra
O sonho faz parte da vida
Seremos pela causa vencida, numa luta distorcida

25 janeiro, 2009

««envolta num véu««


Procurei nas estradas da vida
um grande amor, postal ilustrado
Eu sabia era causa perdida
casa sem tecto, monte assombrado

Sempre andei na vida torcida
tanto corri entre o montado
Fui giesta agreste, ressequida
perdida entre sonhos alucinados

Envolta num véu fino, singelo
cruzei a terra de lado em lado
o campo reguei com água salgada

Penso e repenso como seria belo
chamar-te para sempre meu amado
mas, não resisti à louca jornada

««Queira Deus tua loucura acorrentar««


Meu grito libertarei no vento
para as minhas mágoas espalhar
Os lamentos soltarei no tempo
pensando teu coração adocicar

Nada mais restará, simples tormento
que possa tua amargura embalsamar
Com pingos de luz e puro incenso
queira Deus tua loucura acorrentar

Somente perdida em devaneios
um dia resgatarei teu coração
numa bola de sabão o guardarei

Viverás no escuro, fechado, alheio
roçando os limiares da solidão
pobre de mim que jamais te alcançarei

24 janeiro, 2009

««Alma Lusitana««


Chega-me no vento suão
Trovas de uma bela canção
Cantam a terra, velhos tempos, outra era

Falam de moiras encantadas
Enclausuradas no ventre da serra
Nas suas torres engalanadas
Esperam por príncipes, que foram prá guerra

Cantigas do vento suão
Que chegam da margem raiana
Queimam o trigo, o pão
Da planície Alentejana

Ás gentes trazem desgraça
Perderam a pátria, a raça
Nas batalhas vestem a mortalha
E desesperam pelas cangalhas

Envoltos em fina mortalha
Regressam nos braços da sorte
Que os trouxe no vento norte
Feitos pó de uma estrada
Nunca antes palmilhada

Podes dizer princesa encantada
Que foste amada desejada
Mas tristemente trocada

Por sonhos de guerreiro errante
Que morreu na ponta da espada
Por uma pátria, imaginada

Gloriosa , sempre navegando
Outros mares, outras paisagens
Novas divas, internas miragens
A alma Lusitana,

Por castelos de espuma deslizando
Sempre recordando, divagando
Aqui e ali enraizando

23 janeiro, 2009

««Palavras vivas««


Escrevo palavras vivas
Como quem recomeça a viver
Escrevo palavras sentidas
Quase sempre para esquecer

Escrevo palavras a tremer
Com medo de recomeçar
E se eu não conseguir dizer
O que tenho pra contar

Escrevo palavras a chorar
Envoltas em negros véus
Meu amor triste penar
Sempre que olho prós céus

Vejo estrelas a brilhar
Procuro-te no firmamento
Pobre de mim, vago pensar
Que vives num outro tempo

Escrevo palavras sem senso
Palavras murchas , doridas
Quase sempre as lanço ao vento
Pensando sarar as feridas

««Remessa urgente««


Sr. Primeiro ministro
Desculpe o incomodo
Sei que é muito atarefado
Mas cá na nossa aldeia
Estamos muito arreliados


Não quer ver vossa excelência
O que vai acontecer
Vai haver o mundial
E a gente onde o vai ver

Nem imagina a confusão
Na tasca do João
Ele quer uma televisão
Mesmo em cima do balcão

Já o Sr. Prior
Está em desacordo
Fala que o melhor é um lençol
Para ver os jogos
Que coisa de doidos

Até o cangalheiro
Homem feio e sisudo meteu o bedelho
Quer ver os jogos no muro do cemitério
Veja vossa excelência o sacrilégio

Só vossa bondade
Para resolver a questão
Tem que haver autoridade
E uma grande organização

Quer a minha opinião
O melhor é na fazenda do compadre Simão

Com os novos subsídios
Matamos dois coelhos numa cajadada
Compramos a televisão
E fazemos uma feijoada

E já agora só mais um pedido
Ponha lá a nossa aldeia no mapa
Por causa dos turistas
Que vem ver as nossas vacas


Com esta me despeço
Muito agradecida por sua atenção
E cá o esperamos para a inauguração
Com a garantia de ter o nosso voto
Na próxima eleição…


P.s
Uma perguntinha do amigo sacristão
Se votarmos em branco
Ganhamos a televisão.

21 janeiro, 2009

««Acredita que morta estou««


Procuro na escuridão
Noite fria , hora morta
Procuro a solidão
Companheira de vida torta

Por entre a brecha da porta
A porta dos sentimentos
Procuro o quê? Pouco importa…
Uns quantos sonhos, um alento
Que me escutem um momento

Que ouçam o meu lamento
Sinto-me fora deste tempo
Nasci na era errada
Sou nada, e nada sou

Sou uma alma cansada
Perdida na imensidão
Na planície enraizada
Que no Alentejo brotou

Assim a noite findou
E eu perdida em delírios
Desvairada ainda estou
Tal qual a fonte que secou

Secaram nos campo os lírios
A planície por entre martírios
O meu grito para longe levou

Será que a terra o escutou
Ou simplesmente o renegou
Acredita que morta estou

««Namoro««



Meus olhos namoram os teus
Numa doce sedução
Os teus perguntam aos meus
Como vais minha paixão

Olhar de insinuação
Que tu fazes com preceito
Respondo com moderação
Um pouco confusa, sem jeito

Olhos nos olhos, deleite
Mil promessas, fantasias
Encosto-me ao teu peito
Qual bichano enroscado
Buscando por maresias
Do teu cheiro adocicado

Olhos com olhos, trincado
Beijo na boca pasmado
Novo olhar enamorado
Um novo beijo que é dado

Nosso olhar entrelaçado
Repousa num ponto distante
Querendo reter o quadro
Pintado nesse mesmo instante

20 janeiro, 2009

««Bilhete postal««


Começo por dizer-te
Que o tempo está abafado
Que o Zé das vacas
Continua embriagado
E o João da tasca
Sempre mais desmazelado

O Sr. Prior continua à rasca
O telhado da igreja
Desta é que desaba
Fez um peditório
Mas os crentes estão descrentes
A vida está má para toda a gente

A avó Joana, está entrevada
Coitadinha está toda curvada
A tia Maria agarrada à enxada
O Chico da mula
Deixou a terra mal lavrada

Lembraste da estrada
Para os lados da fonte
Caiu o pontão
E o Tonico do pão
Deu um trambolhão
Tadinho que aflição

Gostava de saber
Sobre o teu irmão
Há tanto que não o vejo
Deve estar um rapagão

Por agora termino
Vai longo o serão
Meu amigo Firmino
Um aperto de mão
Beijinhos à esposa
Com toda a minha afeição

19 janeiro, 2009

««José Carlos Ary dos Santos««


Abrindo um parênteses na linha deste espaço assinalo os vinte e cinco anos da morte de José Carlos Ary dos Santos, poeta de alma maior, que tão bem cantou as maleitas desta terra. Morreu o homem ficou a sua voz na obra que nos legou



Poeta Castrado, Não!

Serei tudo o que disserem
por inveja ou negação:
cabeçudo dromedário
fogueira de exibição
teorema corolário
poema de mão em mão
lãzudo publicitário
malabarista cabrão.
Serei tudo o que disserem:
Poeta castrado não!

Os que entendem como eu
as linhas com que me escrevo
reconhecem o que é meu
em tudo quanto lhes devo:
ternura como já disse
sempre que faço um poema;
saudade que se partisse
me alagaria de pena;
e também uma alegria
uma coragem serena
em renegar a poesia
quando ela nos envenena.

Os que entendem como eu
a força que tem um verso
reconhecem o que é seu
quando lhes mostro o reverso:

Da fome já não se fala
é tão vulgar que nos cansa
mas que dizer de uma bala
num esqueleto de criança?

Do frio não reza a história
a morte é branda e letal
mas que dizer da memória
de uma bomba de napalm?

E o resto que pode ser
o poema dia a dia?
Um bisturi a crescer
nas coxas de uma judia;
um filho que vai nascer
parido por asfixia?!
Ah não me venham dizer
que é fonética a poesia!

Serei tudo o que disserem
por temor ou negação:
Demagogo mau profeta
falso médico ladrão
prostituta proxeneta
espoleta televisão.
Serei tudo o que disserem:
Poeta castrado não!


José Carlos Ary dos Santos

««Pedra virarei««


Secaram as lágrimas, pensei que era dádiva
Engano virei pedra, que rola pela chapada
Que dorme no ventre da terra, que espera
Na busca, desespera


Perdida entre quimeras, o ver e o devaneio
Ardeu o rosmaninho, mingou o poejo
Secou o ribeirinho, virou pó o Alentejo

Ao longe um lugarejo, abandonado
Sombrio, funesto, parece assombrado
Tem ares de moiro encantado

No centro um chaparro pasmado, rapaz exaltado
Olha para mim abismado, com jeito gaiato
E fala-me num tom pausado

Encosta-te a mim pedrinha perdida
Fica do meu lado, no alto plantado
Da planície serei rei, de todos cuidarei
Terás sombra, e bolota, um castelo encantado

Dormirás ao relento, sob o céu estrelado
E não mais deixarei, que o Alentejo seja abafado
Ou tão somente ignorado, maltratado

18 janeiro, 2009

«« No tempo que me resta««


Busco por entre o silêncio
Do tempo que me resta
Busco uma sombra , fina aresta
Tal flecha envenenada
Que acerta no meu coração
E me transforma em nada

Busco na noite fria
Eterna solidão, parca ilusão
E ouço! Mera imaginação…
A tua voz dizer com paixão
Palavras de amor
Que me falam ao coração

No silêncio dos anos vindouros
Buscarei por sons de besouros
Sozinha estarei, imaginarei

No silêncio de um quadro pintado
Em noites tão longas, caminhos trocados
Pintarei um leve ondulado, desmaiado
Do teu calor dormindo ao meu lado

Resta-me falar com o silêncio calado
Deste quadro pintado
Desejado, jamais alcançado

16 janeiro, 2009

««Castelo da minha infância««


Pintei o azul do céu
Numa aguarela sem fim
Desviei esse teu véu
Numa tela pintada por mim

Lá no alto por entre marfim
Vejo-te qual ser imponente
Pinto-te mesmo de frente
Castelo de vida ausente

Memórias de meninice, eu vi
Revivi, chorei, e sorri
Tal foram as saudades
Que nessa hora senti
Pintando-te num quadro pintado por mim.

15 janeiro, 2009

««Em nome de um Deus qualquer««


Em nome de um Deus qualquer
Que não é o de Abraão
Se vai matando a granel
Com armas de frio fel
Um povo que é nosso irmão

É hora de unir as mãos ,que termine a chacina
Que o povo de Israel perseguido e torturado
Que foi pasto da ganância de ditadores em fúria
Levante os olhos ao céu, e veja quanta injuria
Quanta criança morta, quanta gente mutilada
Vem matando ao longo da história
Em nome de uma guerra sagrada

A fé em Deus foi mutilada
Uma nação foi humilhada
Quando o amor deu lugar ao ódio
Quando se esqueceram as diferenças
A que todos temos direito

Quando as crenças e o preconceito
Venceram a razão
Quando o homem matou o seu irmão
Em nome de um Deus que morreu, por todos nós
E nos ensinou a viver em comunhão.

14 janeiro, 2009

««Escuro manto««


Por aqui vou, direi
Percorro caminhos sem fim
Procuro o quê, pensei
Um sinal que me falasse de ti

De onde vim esqueci
Meus ais enterrei lá no fundo
Foram tantos que morri
Quase me esqueci do mundo

Coberta de escuro manto
Tentando esconder o pranto
Meus passos tento acelerar
Para de seguida abrandar

Ando num lento caminhar
Meus pés pesam como chumbo
Não sei como te alcançar

Quando estou quase a chegar
Uma pedra no caminho
Um novo tropeçar

Mais um recomeçar
Procurando-te
Por entre os espinhos

12 janeiro, 2009

««Trovas de um simples pastor««



Ouço cantigas no vento
Desde o norte ao barlavento
Ouço cantigas sem tempo
Trazidas pelo vento suão
Que as deposita em minha mão

Ouço cantigas de amor
Um amor que aquece a alma
Na planície, na tarde calma
Onde entoa o clamor,
Das trovas de um trovador

Em versos de branca cor
Melodias de encantar
Ouve-se ao longe o pastor
Cantando pra não chorar

Perdido por entre o montado
Qual guerreiro encantado
Numa lenda de pasmar
Numa luta desigual
Seu rebanho vai guardando
Em voz rouca vai cantando
Seu amor a Portugal

No seu cantar cordial
O pastor alentejano
Pinta a paisagem rural
Em tons de ouro e castanho

Ouço cantigas ao largo
Na brisa que vai passando
Pelo campo se vai espalhando
Um sabor adocicado

Como quem esconde o amargo
Da vida de quem está cantando.

09 janeiro, 2009

««Parda utopia««


Queria atingir a perfeição
Pobre demência, parda utopia
Tantas réstias de ilusão
Aliadas à fantasia

Quem diria…
A uma criança revolta, que mulher adulta
Continuaria a buscar palavras de encantar
Para poder rimar versos de causa torta

Será que depois de morta
A perfeição atingi

Nessa altura pouco importa
Sabendo que sempre vivi

Procurando a perfeição
Em todas as coisas que vi
Em todos, a quantos sorri


Mas nunca no que escrevi
Nem naquilo que senti.
Parda utopia de mim.

08 janeiro, 2009

««Minha escrita turbulenta««



Em tempos consegui escrever
Versos de amor cintilantes
De uma beleza tal
Tal qual puro cristal
Esculpido por eternos amantes

Não, por mim não chores
Se perdi a escrita vistosa
Tal qual a bela rosa
Tudo tem seu tempo de vida

Ficou mais diluída
Minha escrita mentirosa
Restou uma rima fingida
Que inverte poemas em prosa

Quem sabe é mais corajosa
Esta escrita turbulenta
Que conta de forma airosa
As dores que minha alma enfrenta

Quando meu corpo não aguenta
Meus sentidos se esvaziam
Minhas escrita é um mural
Lavado com água benta
De uma pia baptismal

E então, passo a escrever
Sobre o bem, e sobre o mal
De igual para igual
Deixando para trás, minha escrita angelical

««A saudade bateu««


Madrugada alta
Dou voltas e voltas
Conto carneirinhos
Toda a espécie de bichinhos
Com calma, encaro a derrota

A espertina venceu
Uma grande saudade bateu
Dos tempos de criança
De menina do liceu

Na cabeça duas tranças
No rosto um sorriso largo
No coração a esperança
De quem não conhece o sabor amargo

Dos sonhos perdidos
Dos tempos esquecidos
De amores e desamores
De certos odores
Que lembram a morte

A morte tão fria, tão nua e crua
Que um dia chega, entra sem bater
E nos chama sua, doa a quem doer

07 janeiro, 2009

««Mar dos Sentidos««


Mar dos sentidos
Onde minha alma vagueia
Por entre gemidos
Sussurros contidos
Palavras que o vento semeia

Como quem colhe e a seguir presenteia
Assim é matéria, o nosso amor

Umas vezes surdo, outras perde o juízo
Umas outras teimoso, mas nunca vencido

Neste mar deslumbrante
Ergue-se tal força imensa
Que acalma e trás alento
Tal qual areias flutuantes
Perdidas num mar de tormentos

Eternos amantes
Do antes e do depois
Dois espíritos errantes
Envoltos em brancos lençóis
De tendas Mongóis

Vencidos, estafados, vibrantes
Há -de haver, um só instante
Meu amor,
Em que adormecemos os dois.

««Ramo com fita escarlate««



De manhã, por entre azinheiras
Olho o tempo, olho o espaço
Recordo uma vida inteira
Uma flor cai no meu regaço.

Ato essa flor com um laço
Uma fita de cetim escarlate
Junto-lhe margaridas, papoilas, rosmaninho
Um papel em tom de chocolate
E ofereço-te este raminho

Para que sintas seu cheiro
Perfumo-o com flores silvestres
Umas hastes do velho sobreiro
E umas gotas de amoras silvestres

Neste ramo campestre
Ponho toda a minha arte
Parece pintura rupestre
Meu ramo atado com fita escarlate.

05 janeiro, 2009

«« No meu leito viajo sem fim««


Semicerro o olhar
Para o meu pensamento, poder disparar
Caminho por terras distantes
Por serras e montes, bem perto do mar

Por cidades a fervilhar
De luz, de vida tão extensa
Umas são tão bonitas
Outras, não lhe encontro parecenças

Caminho por terras de crenças
Daquelas que matam a eito
Fechadas à liberdade
Viradas pró preconceito

Deitada no meu leito
Viajo de lado em lado
Quando volto trago no peito
Um coração quebrado em bocados

Metade um sorriso alargado
Pelo que vi em qualquer lado
Num país civilizado

Um pranto dobrado
Na outra metade

Por tanta morte, tanta fome
Tanto ser abandonado
Em nome de um Deus
Que deve estar tão revoltado

««Triste amor««


Meu triste amor
A minha dor
O meu clamor
Amor triste
O rir perdes-te
Sabes sorrir
Teus ais escondes-te
Porque nasces-te
Perguntas a Deus
Porque não te deste
Aos braços meus
Lamentos teus
Quero tomar
O teu abraço
Quero abraçar
No teu sonho
Quero entrar
Contigo quero
Sempre caminhar
Quero alcançar
Amor eterno
No teu olhar
Quero-me afogar
As tuas lágrimas
Quero secar
Os teus lábios
Para sempre beijar

04 janeiro, 2009

«« Terra de ninguém««


Meu pensamento voa
Dispara qual flecha aguçada
Encrava a ponta embriagada
Bem no centro desta terra, esvaziada

Voa sempre mais além
Por montes por vales
Por terra de ninguém
Quando regressa cansado
Sente-se tão só e aquém

Aquém das ilusões
Das dores, das aflições
Dessas gentes moribundas
Esquecidas, perdidas, viúvas

Minha pena e alma juntas
Não conseguem exprimir
O que vêem na planície
Não conseguem mais tingir

Soltam um grito aflitivo
De quem queria conseguir
Que alguém lhe desse ouvido

Que um dia nesta terra
Se calasse o gemido,
De um chão tão ressequido

03 janeiro, 2009

««Pele com pele««


Pele com pele
Doce desejo
Sabor a mel
Esse teu beijo
Sede ou pecado
No beijo dado
Sabor abafado
Num intrincado
Odor a desejo
Num beijo roubado
É tão arriscado
Beijar assim
Penso abismada
Meu doce amado
Que será de mim

01 janeiro, 2009

««Olho««



Olho a tremer, sem nada fazer
Miro o sul em redor
Um mal maior, em ré menor
Terras cobertas de pó
Entranhas de todos nós
Miro o seu desfalecer

Olho o entardecer
O entristecer
De quem parece viver

Olho com olhos de ver
Tudo à minha volta
A vida torta, o campo agreste
A seara que não floresce
O montado que envelhece
As gentes que não merecem

Olho a chorar
Alentejo a mendigar
A planície a soluçar
Um chaparro a gatinhar
E um melro a cantarolar

Uma canção triste de embalar
Escrita em versos de encantar
Como quem nos quer lembrar
Outros tempos outras eras
Os campos verdes, outras quimeras
Campos de esperança na primavera

Canta melro , canta , canta
Canta faz-me sonhar
Que a planície é um altar
Coberta de rosas bravas
De uma brancura tão alva
Que se estende até ao mar