13 agosto, 2010

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Mote
Ando no mundo perdido
Sem saber que hei-de fazer
Vejo tanto cabelo comprido
E tanta gente a sofrer.

Porque anda tanto bandido
Bem vestido e a rigor
Com capa de doutor
E canudo bem esticado
Deita o olhar afiado
Aos bolsos do povo então
Roubam tostão a tostão
Com ar de forte chalaça
Comem á mesa a desgraça
Ando no mundo perdido

O meu país a doer
No sangue que corre atrás
De ideias, aliás
Que estão em banho Maria
E qualquer dia, qualquer dia
Nem os santos nos acodem
Eles comem tudo, tudo comem
Se dizia antigamente
E eu até ando doente
Sem saber que hei-de fazer

Não escutam o que eu digo
Esta rapaziada d`gora
Não sabem de antigamente
Nem daquela boa gente
Que caiu ao chão e morreu
Por um sonho que era seu
Liberdade, liberdade
Onde está a fraternidade
Um sonho que esmoreceu
Mas sabem que digo eu
Vejo tanto cabelo comprido

Não é que seja mau de ver
Esta gente que cresceu
Num país que amanheceu
Depois da noite tão fria
Mas quem a mim me diria
Que em toca de coelho
O país partiu o espelho
Que é viver em democracia
Mas quem vê a asfixia
E tanta gente a sofrer.



Esta glosa foi escrita sob um mote que o amigo António Prates me enviou, confesso que nunca tinha escrito sob um mote de outra pessoa, mas foi uma experiência interessante, porque neste caso a escrita correu ao sabor das emoções de outra pessoa, o mote que parece simples não o é muito se poderia escrever através dele, eu dei-lhe a forma das gentes da terra agarrei-me ás recordações de muitas conversas de fim de tarde que estas gentes mantêm neste Alentejo profundo, amigo António Prates, espero que não o tenha desiludido e não tenha transfigurado o seu mote numa visão muito minha.

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