30 julho, 2009

Poeta proscrita...


Os versos saem-me das entranhas, rompem a placenta do sofrimento.
Vestem-se de cores estranhas, adornam-se de bijutaria na palavra.
Apesar de me doer essa transfiguração, em todas as horas lhe acrescento...
Pingos de sangue, são as minhas dores que mergulham na água.

A pele de que é coberto o meu fracassado verso.
É uma pele suja e rugosa, por onde jamais entrará a claridade
disfarçada de obscurantismo. A pele do meu verso é arreio,
com o qual, amordaço a palavra em franca insanidade.

A insanidade de quem escreve e não sabe a força de que é feito.
O vendaval que anuncia o ventre dilatado, no verso que derrama.
Estranheza no olhar daquele que não entende o jeito.
Com que o poeta, que não é poeta, tropeça na raiva, se estende na lama.

Lama revigorante, tratamento antirrugas, do verso contrafeito.
Cai em queda livre mergulha em cataratas de água barrenta.
Em busca constante, vagueia de espírito refeito.
Os versos saem-me das entranhas, deixam de ser meus, estranha ferramenta!

Que utilizo a meu belo prazer. Foi Deus ou o Diabo que me abriu o peito?
Foi o sol de agosto, o homem do campo, esta terra maldita!...
Alentejo em brasa, filho congénito, nas mentes embriagado, povo faminto.
Foi dessa cepa que ganhei raízes, que criei matizes de poeta proscrita.