25 maio, 2009

«« Sei que vais lá estar ««


Nas pedras lisas da calçada
Revejo a minha imagem já tão gasta, imagem que desconheço
Rolam pedras em delírio pela chapada do tempo
Levam na corrente, os meus anseios, os meus sentidos
Empurram sem ter dó, os meus sonhos, mostram-me um caminho,
Frio e nu, onde o pó da desilusão tomou conta da paisagem,
Por vezes a fria aragem, que corre a par pela chapada, diz-me…
Que o meu destino foi escrito, muito antes de nascer, como posso entender
Que o ventre que me fez viver, nada sabe de mim, como posso compreender
Que o mundo onde vou morrer, não me tenha escrito o fim
Quando me revejo nas pedras, sinto-me de alma nua, sinto que já fui tua
Sim tua, desconhecido em viagem, névoa parda da miragem, daquilo que sonhei ser
Daquilo que não sonhei ter, mas que um dia vou colher.
Pedras soltas na calçada
Pisadas por todos a eito, pedras soltas no meu peito, chocalham as ideias
Ideias que adormeço no leito, gelado em dia não, gelado na confusão
Na correria medonha, no barulho ensurdecedor
Que as pedras fazem ao rolar, como elas gritam sem parar
Parecendo me alertar, para o que me falta encontrar
Mas como,
Como podem elas, me levar, nesse mar a navegar, sem ter medo de naufragar
Porque sei que vais lá estar, esperando
Mesmo que nunca te encontre
É isso que as pedras me dizem, rolando.

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