19 janeiro, 2009

««Pedra virarei««


Secaram as lágrimas, pensei que era dádiva
Engano virei pedra, que rola pela chapada
Que dorme no ventre da terra, que espera
Na busca, desespera


Perdida entre quimeras, o ver e o devaneio
Ardeu o rosmaninho, mingou o poejo
Secou o ribeirinho, virou pó o Alentejo

Ao longe um lugarejo, abandonado
Sombrio, funesto, parece assombrado
Tem ares de moiro encantado

No centro um chaparro pasmado, rapaz exaltado
Olha para mim abismado, com jeito gaiato
E fala-me num tom pausado

Encosta-te a mim pedrinha perdida
Fica do meu lado, no alto plantado
Da planície serei rei, de todos cuidarei
Terás sombra, e bolota, um castelo encantado

Dormirás ao relento, sob o céu estrelado
E não mais deixarei, que o Alentejo seja abafado
Ou tão somente ignorado, maltratado