13 junho, 2010

«« Multidão ««


Carrego a esperança
Num gesto ofuscado
Numa impermeabilidade demente
Matizo os meus dias de cores toscas
Não reparas, ninguém repara
Todos passam apressados
Como se o dia definhasse
Eu mantenho-me imóvel
Numa estranheza passiva
Apetece-me gritar
Mas garganta não tenho
Apetece-me correr
Acabei de partir as pernas
Quem sabe possa voar
E assim lá do alto acenar
Até à exaustão
Mas…
Nesse dia será tarde
Tu não me viste
Ninguém me viu
E eu acabarei por me afogar
No grito que me sufocava

E assim acabarei por renascer
E passarei a ser eu que não te vejo
Nem vejo as gentes que passam a correr.

Finalmente passarei a ser mais um
Numa multidão gasta
Onde todos perfazem nenhum.

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