04 fevereiro, 2010

«« Adeus Rosa ««


Quem me quiser há-de saber as conchas
a cantiga dos búzios e do mar.
Quem me quiser há-de saber as ondas
e a verde tentação de naufragar.


Quem me quiser há-de saber as fontes,
a laranjeira em flor, a cor do feno,
a saudade lilás que há nos poentes,
o cheiro de maçãs que há no inverno.


Quem me quiser há-de saber a chuva
que põe colares de pérolas nos ombros
há-de saber os beijos e as uvas
há-de saber as asas e os pombos.


Quem me quiser há-de saber os medos
que passam nos abismos infinitos
a nudez clamorosa dos meus dedos
o salmo penitente dos meus gritos.


Quem me quiser há-de saber a espuma
em que sou turbilhão, subitamente
- Ou então não saber coisa nenhuma
e embalar-me ao peito, simplesmente.


Rosa Lobato de Faria ( 1932... 2010 )

2 comentários:

Cria disse...

És perfeita, Poeta ! Parabéns pela grandiosa inspiração. Meu carinho.

Antónia Ruivo disse...

Este poema é de uma grande poeta, Rosa Lobato de Faria, que nos deixou no passado dia 3 de Fevereiro. Ao publica-lo foi uma maneira de homenagear a mulher e a poeta, o mundo da escrita ficou mais pobre.